segunda-feira, maio 06, 2024
Nada mais grandioso como o Mito que tínhamos. Agora nós o temos como um pinto. Na chuva.
Salvador
OS RIOS
As enchentes do rio que vi na infância eram pra mim só alegria. Aquele rio tão largo hoje estreito soltava pelas margens baronesas tábuas caranguejos. Um espetáculo. De um lado a casa da menina morena linda que nunca mais vi. Do outro lado a casa do Coronel que tinha corrido atrás de Lampião e cuja filha sempre cheirosa não tinha a oportunidade sequer de cheirar. Brilhou nas colunas sociais de Salvador. Me aconselhou a casar com moça rica. Casou com um trinta anos mais idoso que ela. Antes de ser levada pela Covid me convidou a levá-la a uma casa vazia em Itapuã. Declinei do convite. Foi um rio que passou em minha vida . Fiquei à margem.
Atentou contra o estado democrático de direito e ainda não foi julgado condenado e preso. É o ritual da justiça. O seu dia chegará.
Está é a minha saída: guardar fotos na Internet álbum de famílias umas inteiras outras em destroços retratos de minha vida.
«O beijo ainda é um sinal, perdido embora, / da ausência de comércio, / boiando em tempos sujos.» (Carlos Drummond de Andrade)
Blog do Charles Fonseca: MUCUGÊ. Charles Fonseca. Poesia
domingo, maio 05, 2024
ESPERAS
Centenas a cada dia lêem o que publico. Não os conheço. Três ou quatro ao dia convivem comigo. São meus familiares. Entre as centenas e meus singulares na convivência familiar um enorme vazio. Este preencho com leituras e esperas. Que não chegam.
VERSÍCULO
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
João 4:23-24
A VAIDADE
“A vaidade está tão arraigada no coração do homem que um soldado, o ajudante de um soldado, um cozinheiro, um porteiro, todos vivem a se gabar e a procurar admiradores, e mesmo os filósofos [eu diria que, em geral, principalmente os filósofos] desejam tê-los. E aqueles que escrevem contra a vaidade desejam ter a glória de escrever bem; e aqueles que leem o que estes escreveram desejam a glória de ter lido isso; e eu, que escrevo este ataque à vaidade, talvez alimente também o mesmo anseio de glória: e talvez também os que leem isto”.
Pascal ( citação extraída) em,”O livro das citações: um breviário de ideias”.
“St. Jerome Writing” - Caravaggio ,1604.
A CERIMÔNIA
À cerimônia a todos concedida a oportunidade. Ao fim da caminhada. Ao bater asas de quem já se foi como pomba desgarrada. Que aqui chegou neste mundo tão delicada e de tão frágil e foi colhida pela ceifadeira, a indesejada de todas as gentes.
Jesus alegria dos homens. Coral e orquestra presto
A ALMA
A morte - O sol do terrível
A morte - O sol do terrível
Mas eu enfrentarei o Sol divino,
o Olhar sagrado em que a Pantera arde.
Saberei porque a teia do Destino
não houve quem cortasse ou desatasse.Não serei orgulhoso nem covarde,
que o sangue se rebela ao som do Sino.
Verei o Jaguapardo e a luz da Tarde,
Pedra do Sonho e cetro do Divino.Ela virá - Mulher - aflando as asas,
com o mosto da Romã, o sono, a Casa,
e há de sagrar-me a vista o Gavião.Mas sei, também, que só assim verei
a coroa da Chama e Deus, meu Rei,
assentado em seu trono do Sertão.
Nada de desânimo
Salvador
«Deixei em vagos espelhos / a face múltipla e vária, / mas a que ninguém conhece / essa é a face necessária.» (Marly de Oliveira) *
FAMÍLIA SAMPAIO
No ar cheiro do Theobroma do suor e das mulatas; me envolvi nesta onda; um nó que ninguém desata.
Salvador
Tu me levaste em vida o que na morte não vou levar foram contigo ao altar os sonhos as ilusões perdidas
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Salmos 23:1
sábado, maio 04, 2024
Blog do Charles Fonseca: CASCATINHA E INHANA - ÍNDIA
A TUMBA
Quem vê tanta TV canal aberto ou o fechado visão restrita agora streaming almas aflitas de mais o ser o haver deserto?
À TUMBA
o tempo passa vazio o espaço é infindo
a imaginação é fértil e o real está aqui
deslizo em letras símbolos e em mim
sorrio e choro as emoções, partir
quando não se sabe a hora
da ceifadeira a cada campa uma
sorri enquanto choram em volta
os destinados a ela tumba
Salvador
POESIA. AUDIOBOOK
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A IDÉIA NA CABEÇA
Estou gravando em vídeo meus poemas desde 2006. Não sei quantos são. Milhares talvez. Desde os medíocres aos que são o seu oposto, estes raríssimos. É que denotam ao vivo na voz e na fisionomia visão da emoção que tive ao escrevê-los. Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, parafraseando.
OS MEUS. Vídeo
Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; Mateus 5:44
«Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!» (Alberto Caeiro) *
Não trato parentes e amigos pelo título honorífico
Peço a meus amigos que não me falem sobre nem me enviem textos políticos
sexta-feira, maio 03, 2024
Quem tem muitos filhos corre menor risco de solidão
DIZEM QUE É
não volte mulher Cabo Frio
te prende não sei o por que
coisas do coração já se vê
não deixe o teu peito vazio
deste tal de bem querer
deste fogo abrasador
às vezes só fumega a ver
ou crepita dizem que é o amor...
OS MEUS
então eu disse adeus
àquele amar sem retorno eu disse adeus
àquele tudo direitinho eu disse adeus
agora eu quero é andar pra frente aos meus
os que me amam e eu não digo adeus
O NAUFRÁGIO
Não não foi destino
houve morte anunciada
este casório não vai dar em nada
foi muita pompa e um desatino
As mulheres todas bem pintadas
vestidos longos perfumes caros
os homens paletó e gravata Hermés
e cravos e violinos e Haendel uma festa rara
O Aleluia toca a orquestra o madrigal a regente no alto o coral
vai em frente a cerimônia o casal
os convidados o padre a reza
Só que o acertado no céu
não ocorreu aqui na terra
uma tragédia por si encerra
no mar desta vida sossobra o batel
Salvador
2,285,504 visualizações de páginas desde 2006
Blog do Charles Fonseca: MUCUGÊ. Charles Fonseca. Poesia
Há muitas ilhas de amor em cada esquina rua bairro cidades a aportar; no cais saudoso baixar as velas por os pés no porto deixar pra trás sonhos saudades várias
quinta-feira, maio 02, 2024
Saudade não mata pois que escrevo; aleija a alma e encurta a vista.
Alisar os seus cabelos puxá-los muito suave para trás e de modo grave querer ouvir os gemidos seus.
A quantidade de roubos é muito grande. Em qualquer lugar e a toda hora. Só Jesus na causa.
Bahia
Manuel Bandeira Os sapos
Manuel Bandeira
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."
Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio
«O beijo ainda é um sinal, perdido embora, / da ausência de comércio, / boiando em tempos sujos.» (Carlos Drummond de Andrade)
O SEM FUTURO
"Sem futuro me dê um cigarro" berrou um Brasil bronzeado. Pagou por dois e deixou o troco "depois eu volto". Por que se aborrecer? Pagou adiantado. Ao fundo um pouco ao lado as fotos dos filhos o futuro estimado.
Como esquecer agora aquela que tanto amei. Como dizer stá morta, como esquecer tanto amar hei?
Teu casamento não sacramental não é eterno. O sacramental pode nunca ter existido. O ajuntamento só saia ou vestido. O amancebado já não existe de velho.
Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam. Salmos 86:5
A VOVÓ
ESPINHEIRO
quem devia casar com ela era eu
será que ela pensou assim
que havia em seu peito pra mim
só amizade o amor feneceu
ou ficou escondido toda uma vida
numa convivência fraterna
essa pergunta nunca fiz a ela
morreu ao sufôco de espinhos, querida?
quarta-feira, maio 01, 2024
Faço votos que o Brasil dê certo desde já. E você?
A TRAVE
Então fez-se silêncio fecharam-se em copas
nada a comentar ou a perguntar
sós sabiam há
sombras ao luar
a lua de mel mero proscenio e agora?
do que por vir haveria ou houve
agora é aguardar um baque
filho da esperança uma trave
cravou-lhe o peito chorou o que pôde.
Tenho respostas a não dar face a face tampouco por WhatsApp ou e-mail perguntas não me façam disfarcem stou surdo mudo cego de coração ao meio.
Vinicius de Moraes Soneto da intimidade
Vinicius de Moraes
Soneto da intimidade
Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.
Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.
Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve
Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.